terça-feira, 27 de maio de 2008

A epopeia de Conês (capítulo III)

Nheta conduzia o camião com a perícia de uma Elisabete Jacinto a caminho de Dakar. Conês dormitava no lugar do pendura, embalada pelo traumatismo crânio-encefálico que sofrera horas antes. Acordou passadas umas horas quando o camionista não conseguiu evitar um buraco na estrada e a sua cabeça embateu no pára-brisas .
- Foda-se! – exclamou – Dói-me a cabeça até pescoço!
- É natural – respondeu Nheta – Por vezes a colisão da cabeça com um objecto um bocadinho mais duro causa alguma dor na zona de impacto. E é por isso que dói, percebes?
Conês não respondeu. Era impressionante a cultura de Nheta. Sentia crescer dentro de si uma paixão avassaladora por aquele camionista que, embora humilde, era dono de uma inteligência fora do normal. Sentiu um calor nas bochechas, estava a corar. Com medo que Nheta reparasse, virou o bico para a janela e foi observando os cães atropelados à beira da estrada...
- Coitaditos – disse Nheta – Morreram porque deixaram de estar vivos!
- És tão inteligente Nheta! – observou Conês – e tão esperto!
Nheta soltou um sorriso envergonhado com a observação da sua nova amiga. Conês soltou um peido, e riram-se muito os dois... Desde que saiu do ovo que Conês tinha dificuldade em lidar com as emoções. Sentimentos como o amor causavam-lhe soltura nos intestinos, mas com o tempo aprendeu a controlar-se e agora só solta um peidito aqui e ali... Mas aquele peido era sinal que Conês estava mesmo a apaixonar-se...

(TU BI CONTINIÚDE)

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